Sobre tudo aquilo que devemos saber lidar - ou não

Abro a porta tentando calcular o meu valor - seria ele proporcional ao meu vazio?
Eis que me deparo - e páro- com um homem no meu sofá.
Confortável, o homem me recebe com um sorriso. Meu coração acelera, meu estômago grita e minhas mãos suadas estremecem.
- Quem é você? Como entrou na minha casa?
- Do mesmo jeito que você: pela porta.
Talvez porque a outra resposta era mais desejada, me satisfiz com essa ridícula explicação.
Alto, magro, cabelos pretos desalinhados, nariz imponente, um sorriso perturbador desenhado por lábios finos, o homem que eu via era algo entre aconchegante e repugnante.
-Quem é você?, eu urgia pela resposta.
- Ah! Vocês e essa mania de definições!!!! Quando irão finalmente perceber que a vida é muito maior que ser isso ou aquilo?
"Vocês?" Que vocês???? Meu esforço pro pensamento não virar frase foi enorme!
Comecei a irritar-me. Estava cansada, queria um banho, estava parada ao lado da minha porta ouvindo maluquices de um homem desconhecido que nem se definia, nem se apresentava.
- Pois bem, meu senhor, explique-se, apresente-se ou defina-se - tanto faz!
- Posso fazer isso, minha cara. Mas tenho dúvidas se é isso mesmo que você quer.
-Como???, perguntei confusa.
O que ele queria??? Um jantar?
- Se eu começar a fazer o que me pede, te obrigarei a visitar lugares que você vem evitando há tempos... te reapresentarei sentimentos que você vem ignorando há tempos...te farei enfrentar situações que você vem desprezando há tempos...te farei desembrulhar segredos que você vem fechando a sete chaves há tempos...tem certeza de que é o que você quer?


Se houvesse razão, deveria ter respondido não; mas, simplesmente não acreditava ser possível que aquele estranho pudesse fazer algo comigo...claro que já tinha pensado em um estupro, sequestro ou roubo, mas tudo aquilo que ele dizia era surreal demais pra que eu o levasse a sério.
Era?